Intervenção do Presidente da República na sessão de encerramento da “Global Travel & Tourism Summit”
Centro de Congressos, 12 de Maio de 2007

Senhor Presidente da WTTC
Minhas Senhoras e meus Senhores,

Portugal acolhe de novo a “Global Travel & Tourism Summit”, fórum de âmbito mundial, justamente reconhecido como o mais importante espaço de debate sobre a problemática do Turismo.

O conjunto de personalidades presentes, o carácter abrangente e interactivo do debate e a actualidade das matérias em discussão geraram, ao longo destes dias, uma reflexão que, estou certo, muito contribuirá para um melhor entendimento dos novos desafios e oportunidades que envolvem o sector e para a definição dos necessários ajustamentos na estratégia global de desenvolvimento da actividade turística.

É, pois, com satisfação que me associo a esta iniciativa e dou as boas vindas a todos os participantes.

O Turismo é hoje, em termos de receitas geradas, a principal actividade a nível mundial no sector dos bens transaccionáveis e aquela que apresenta maior potencial de crescimento económico futuro. Contribui para 10 por cento do produto mundial, emprega cerca de 8 por cento da população activa e tem representado, em média anual, 12 por cento do investimento global.

Em 2006, o fluxo internacional de turistas foi de 842 milhões, o que representou um crescimento de 4,5 por cento em relação ao ano anterior, sustentando um crescimento médio do produto mundial do sector ligeiramente superior a 5 por cento. Interessante é constatar que o crescimento originado nas economias mais desenvolvidas foi de cerca de 3 por cento, enquanto o dos mercados emergentes e em desenvolvimento foi superior a 7 por cento. Esta mesma tendência deverá confirmar-se nos próximos anos.

Merece, aliás, referência o posicionamento actual da China - sétimo lugar - e da Federação Russa – nono lugar - entre os dez países mais gastadores do mundo em turismo e lazer, em valores absolutos, num “ranking” que é liderado pela Alemanha, seguida pelos EUA, Reino Unido, Japão, França e Itália.

As actuais previsões do sector para o horizonte de 2020 apontam para a continuação de um ritmo de crescimento situado entre 4 e 5 por cento ao ano. Destacam-se a Ásia Meridional e o Pacífico, com a China a atingir, em 2020, a liderança no “ranking” dos países receptores, e o quarto lugar como país emissor.

Estas projecções revelam-se tanto mais notáveis se atendermos ao facto de que o crescimento do sector foi praticamente ininterrupto ao longo das últimas cinco décadas, tendo sempre demonstrado uma rápida capacidade de recuperação após situações de crise.

Minhas Senhoras e meus Senhores,

O Turismo está bem inserido na dinâmica do mercado global, onde as economias são cada vez menos estanques e as tecnologias de comunicação e informação impõem novos patamares de concorrência e de complexidade. Existe hoje uma enorme propensão nos consumidores para a fruição de turismo, viagens e lazer, e o sector projecta-se com acentuado crescimento, o que o torna incontornável nas opções de política económica dos países que querem gerar mais valor acrescentado e criar emprego.

Nesta época de globalização em que vivemos, surgem todos os dias novos destinos, antes inacessíveis ou pouco seguros e agora atractivos e competitivos. A promoção multiplica-se em formatos criativos, envolventes e motivadores. Os transportes apresentam opções de preço quase sem expressão económica. A procura é segmentada por grupos de interesse onde os atributos de qualidade da oferta e os factores geradores de emotividade e novas experiências marcam o posicionamento dos consumidores.

Os novos turistas são também mais independentes, mais confiantes e mais interessados. Querem destinos que lhes proporcionem percepções de qualidade, exotismo, diversidade e saber. Mais do que viajar, querem viver e registar experiências que perdurem na memória e que possam evidenciar mais tarde. São exigentes, activos e susceptíveis ao apelo das marcas e a conceitos inovadores, mas são também mais inconstantes e mais difíceis de fidelizar.

Será, assim, cada vez maior o esforço para atrair e manter clientes, segurar quotas e garantir resultados de exploração. As empresas terão de ser cada vez mais eficientes na sua gestão e eficazes na inovação, qualidade, marketing e comercialização dos seus produtos.

A proliferação do uso da internet, o rápido avanço das low cost, as fusões de grupos operadores e de retalho, a oferta de soluções originais e flexíveis no alojamento turístico, os fortes investimentos em websites, em programas de fidelização, em call centers e em reservas on-line, bem como em grandes espaços de animação temática e criativa, são respostas recentes e objectivas às necessidades e exigências da nova geração de turistas.

Verifica-se, assim, uma dinâmica à qual as instituições nacionais e internacionais responsáveis pelo acompanhamento do sector do Turismo e pelo seu equilíbrio enquanto actividade económica de expressão mundial não podem, naturalmente, ficar alheias.

Minhas Senhoras e meus Senhores,

O Turismo fomenta o relacionamento e o conhecimento entre pessoas, povos e nações. Viajar desperta nas pessoas o sentido da descoberta, fá-las viver novas experiências e emoções. Proporcionando um contacto directo entre diferentes comunidades e um intercâmbio de culturas e vivências, o Turismo estimula o mútuo entendimento das realidades do nosso tempo e permite dar a conhecer, compreender e tolerar “o outro”.

O Turismo é, assim, um instrumento de cultura e um potencial veículo de Paz.
No processo de desenvolvimento dos países, o Turismo gera o aparecimento de novas infra-estruturas e serviços de apoio, impõe a recuperação do património construído, fomenta a afirmação dos valores e da identidade das regiões, ajuda a qualificar os espaços envolventes, estimula a recuperação ambiental e motiva a promoção externa da nova realidade instalada. Para as comunidades locais, estes são factores de progresso económico e de bem-estar, além de elementos congregadores de auto-estima e confiança no futuro.

Atentas estas realidades, são muitos os países e as instituições internacionais que entendem que os problemas do desenvolvimento sustentável, da redução da pobreza e do reforço da segurança passam pelo adequado aproveitamento das potencialidades oferecidas pela actividade turística. Acreditam que o Turismo, sendo elemento dinamizador de desenvolvimento económico, pode funcionar como instrumento de combate à pobreza e como agente de consolidação da segurança e da paz no mundo.
Poucas actividades económicas podem, na verdade, contribuir de forma tão eficaz e tão rápida para o crescimento económico, em territórios com reduzida prestação produtiva, como o Turismo.

No entanto, como é hoje amplamente reconhecido, a singularidade e a fragilidade de muitos dos recursos utilizados na produção turística implicam um extremo cuidado no que se refere à gestão dos impactos associados ao seu crescimento. Se estes não forem devidamente acautelados, as pressões que se exercem sobre o território, o ambiente, a cultura e a envolvente socio-económica podem ser desastrosas e, a prazo, todos perderem: os turistas, que ficam frustrados nas suas expectativas e os destinos que vêem a sua oferta degradar-se.

A sociedade e as gerações futuras exigem aos actuais actores dos processos de desenvolvimento turístico, sejam eles empresários, decisores institucionais ou organizações internacionais, um particular sentido de responsabilidade. Sabemos que os projectos têm que ser economicamente viáveis, mas também sabemos que, para serem sustentáveis, devem ser culturalmente ricos, ambientalmente responsáveis e socialmente justos.

Reconheço que nem sempre é fácil satisfazer este conjunto de requisitos, mas temos o dever de o conseguir.

Vejo, aliás, com satisfação que o sector se mostra cada vez mais consciente destes desafios e do que eles representam para a boa gestão do seu próprio crescimento.

Saúdo todos os participantes nesta 5ª edição da “Global Travel & Tourism Summit”, desejando que esta estada em Lisboa tenha sido uma proveitosa oportunidade de trabalho, e, para aqueles que nos visitam, também uma experiência turística que lhes suscite vontade de regressar a Portugal.