Intervenção do Presidente da República na Cerimónia da Inauguração do Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota
São Jorge, Calvaria de Cima, 11 de Outubro de 2008

Senhor Presidente da Fundação Batalha de Aljubarrota,
Senhor Presidente da Câmara Municipal de Porto de Mós,
Senhoras e Senhores,

Começo por felicitar a Fundação Batalha de Aljubarrota, responsável por este Centro de Interpretação, e todas as pessoas, empresas e instituições que lançaram esta iniciativa, que a patrocinaram e, enfim, que permitiram que ela visse a luz do dia.

Apoiei e acompanhei o desenvolvimento da ideia antes de exercer as minhas actuais funções e, por isso, é com particular satisfação que me associo à inauguração deste Centro.

Já alguém disse que todas as nações são «comunidades imaginadas». De facto, na História das nações, aquilo que há de reconstrução quase lendária de um passado imaginado muitas vezes não tem qualquer correspondência com a verdade dos factos pretéritos.

Não é isso que queremos para a nação portuguesa. A História tem de ser objectiva e isenta, pois só assim será honesta consigo própria. A História não pode estar ao serviço de ideologias, de visões subjectivas do mundo, de concepções parcelares da realidade. Mais ainda, a História não deve ser objecto de qualquer tentativa de apropriação, seja pelo próprio Estado, seja por quaisquer grupos ou facções.

O passado de uma nação é um bem colectivo, tão colectivo como os seus recursos naturais ou os seus monumentos. A nossa História é de todos nós.

É justamente por isso que me congratulo com esta iniciativa. O Campo de São Jorge é um dos lugares de memória mais emblemáticos da História de Portugal. Mas não é propósito da Fundação Batalha de Aljubarrota nem do Centro de Interpretação que agora abre as suas portas alimentar nacionalismos passadistas, falsear os factos ou vê-los numa perspectiva desajustada aos nossos tempos.

Para mais, a batalha de Aljubarrota é um feito de tal forma importante que não carece ser mitificado.

No planalto de São Jorge, no dia 14 de Agosto de 1385, disputou-se o destino de Portugal como nação livre e soberana.

A vitória que aqui alcançámos, graças a uma notável combinação de heroicidade e de técnica militar, consolidou a nossa identidade colectiva e abriu-nos as portas à épica aventura dos Descobrimentos.

Aljubarrota culminou a «incerta guerra» de que falava Camões. E culminou-a da melhor forma para as aspirações dos Portugueses a serem donos e senhores do seu destino. Portugal renasceu como nação nestes campos que nos circundam.

Como tenho afirmado, em várias ocasiões, o passado tem de ser celebrado com sentido de futuro. Não podemos ficar prisioneiros das glórias em que a nossa História é tão rica.

Temos de saber estar à altura da memória dos que aqui travaram e venceram uma batalha difícil, que começou com um impetuoso ataque dos exércitos castelhanos, a que soubemos responder com bravura e audácia.

Aqui teve lugar a «fera batalha», «com mortes, gritos, sangue e cutiladas», nas palavras do poema de Camões.

Soubemos vencer. É com esse mesmo espírito que temos de enfrentar as adversidades da hora presente. É também esse o espírito que sempre caracterizou a atitude das nossas Forças Armadas, de que me orgulho ser o Comandante Supremo, e a que presto a minha homenagem.

Não poderia ser mais oportuna a abertura deste espaço. Conhecer Aljubarrota é um imperativo de cidadania, um dever de portugalidade. Agora, será possível conhecer melhor como se desenrolou a batalha.

O Centro de Interpretação soube tirar partido das novas tecnologias, desenvolvendo um projecto que foi concebido como síntese de educação e de entretenimento. Deste modo, despertar-se-á o interesse das novas gerações pela batalha de Aljubarrota, o que representa um contributo decisivo para a formação cívica dos nossos jovens.

Estou certo de que o Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota que hoje inauguramos será uma iniciativa de sucesso, tal como o tiveram os nossos antepassados, num final de uma tarde de Agosto em que, numas escassas horas, se jogou o futuro de Portugal.

Muito obrigado.