Discurso do Presidente da República na Cerimónia de Entrega do Prémio D. Dinis a Manuel Alegre
Casa de Mateus, 12 de Setembro de 2008

Senhor Presidente da Fundação Casa de Mateus,
Senhor Presidente da Câmara Municipal de Vila Real
Ilustres Membros do Júri,
Senhor Presidente da Caixa Geral de Depósitos,
Senhora Directora-Geral do Livro e Bibliotecas,
Distinto Laureado,
Senhoras e Senhores,

A atribuição do Prémio Dom Dinis ao poeta Manuel Alegre reveste-se de um significado muito especial, que me apraz aqui registar.

Todos nós acabámos de ouvir as palavras do representante do júri a respeito da qualidade do livro premiado.

Todos sabemos quanto a obra do poeta é de há muito apreciada e, sobretudo, o êxito que ela conheceu junto de tantos leitores, praticamente desde o aparecimento dos seus primeiros versos.

Pela minha parte, gostaria ainda de sublinhar a feliz coincidência de ser um poeta, que é também um político, a receber um prémio com o nome de alguém que, além de político, foi igualmente um notável trovador: el-rei D. Dinis.

A obra de Manuel Alegre é, sem dúvida, uma das que mais se identificam com a nossa história e com alguns dos sentimentos que, ao longo dos séculos, se enraizaram profundamente na nossa maneira de ser e de sentir.

Alguns dos seus versos exprimem o essencial daquilo que fomos e somos ainda hoje, daquilo que fez de nós um povo agarrado ao torrão natal e um povo que, ao mesmo tempo, é capaz de se fazer ao mais longínquo dos oceanos.

«Da minha língua vê-se o mar», dizia Vergílio Ferreira. Foi, de facto, no mar que se escreveram algumas das páginas mais admiráveis da história portuguesa. Não admira, por isso, que o mar continue a marcar presença e a inspirar, tal como já acontecia em outras obras de Manuel Alegre, as páginas deste seu último livro, significativamente intitulado Doze Naus.

De alguma forma, o mar faz parte da nossa identidade e constituiu sempre uma fonte, não só de inspiração literária e artística, mas também de riqueza nacional. Conforme escreve Manuel Alegre:

«Somos um país pequeno e pobre e que não tem
Senão o mar
Muito passado e muita história e cada vez menos
Memória».

Temos, realmente, um passado notável, um passado de que nos podemos orgulhar e para o qual não devemos olhar de forma nostálgica, conforme já tive algumas vezes ocasião de afirmar.

Não creio, no entanto, - que me perdoe Manuel Alegre - que a memória desse passado esteja em risco. Pelo contrário, estou firmemente convicto de que a memória daquilo que fomos não se há-de apagar, pelo menos, enquanto houver poetas a escrevê-la e a declamá-la, em versos que o povo admira e sente realmente como seus.

Poetas como Camões, Almeida Garrett, Fernando Pessoa e o próprio Manuel Alegre, para quem Portugal sempre representou, mais do que um destino, uma verdadeira causa, por maiores que fossem as desgraças que cada um deles, a seu tempo, pôde observar e lamentar na Pátria comum.

Quero, por isso, felicitar vivamente Manuel Alegre, antes de mais, por este prémio e pelo muito que a sua obra tem feito em prol da língua e da cultura portuguesas.

Tanto os seus leitores, como todos aqueles que acreditamos nos valores da liberdade e da cidadania, respeitam o poeta e o cidadão empenhado na construção de um Portugal fiel à sua História.

Quero, finalmente, apresentar os meus parabéns à Fundação Casa de Mateus, na pessoa do seu presidente, o Eng.º Fernando de Albuquerque, pelo êxito que representa o prémio D. Dinis e por tudo quanto ela tem feito pela cultura portuguesa.

Ao longo das últimas décadas, a Casa de Mateus tem sido um bom exemplo de como a fidelidade à herança histórica se pode conjugar com o dinamismo na divulgação das artes e das letras.

Oxalá os exemplos como este prevaleçam e se multipliquem, tanto a nível regional, como a nível nacional.