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INTERVENÇÕES

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Discurso do Presidente da República nas Comemorações dos 250 Anos da Região Demarcada do Douro
Casa do Douro, Régua, 10 de Setembro de 2006

Completam-se hoje 250 anos sobre a fundação da Região Demarcada do Douro, através da instituição, por alvará régio, da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro e de um sistema de regulação da produção e comércio dos seus vinhos, cuja concepção de base se estendeu até aos dias de hoje.

Assim se dava resposta à representação enviada ao Rei pelos lavradores do Alto Douro e pelos homens bons da cidade do Porto.

A data, 1756, é muito significativa e pode constituir para nós um primeiro elemento de reflexão. Menos de um ano após o terramoto que destruiu Lisboa e outras zonas de Portugal, o país mobilizava-se num extraordinário esforço de reconstrução. Não obstante, não se perderem de vista os interesses superiores da economia nacional e até se conseguiu encontrar uma solução profundamente inovadora para os problemas que então o Douro enfrentava.

O génio visionário dos portugueses de setecentos que fixaram as bases da primeira região demarcada e regulamentada do mundo, antecipando em mais de dois séculos os modernos conceitos de uma Denominação de Origem Controlada, foi um marco tão forte como a pedra granítica utilizada na altura para definir o perímetro dos vinhedos destinados ao vinho do Porto.

Temos hoje o dever de assinalar e de enaltecer o notável pioneirismo dos homens da época, que souberam definir um modelo duradouro de controlo da qualidade e de certificação dos vinhos da região que se revelou determinante para o reconhecimento universal da excelência dos vinhos do Douro e, em especial, do Vinho do Porto.

É, por isso, com grande prazer que me associo a estas comemorações, em representação do povo português que, muito justamente, se orgulha desta região e do seu riquíssimo património, moldado ao longo de muitos séculos pelo esforço e pela perseverança dos viticultores do Douro.

Aqui se evidenciaram, ao longo dos tempos, a determinação, a audácia e a resistência dos que, enfrentando adversidades, cultivaram e cultivam a vinha, desde a antiguidade até aos nossos dias, completando o que a natureza pôs à sua disposição, ainda que de uma forma dura e muito exigente.

Aqui, no Douro, o homem resgatou à natureza terrenos que pareciam condenados à inutilidade. Venceu o meio adverso, impôs a sua vontade e criou uma região e uma paisagem magnífica em aliança perfeita com o ambiente.

Foi esta “dramática escultura dinâmica” que constitui o Alto Douro Vinhateiro que, em 2001, a UNESCO inscreveu como Património da Humanidade, na categoria de paisagem cultural porque a sua criação é um feito do homem.

Já não é apenas a excelência do vinho do Porto que é mundialmente reconhecida, é também a excelência da região, das suas gentes, do seu ambiente e da sua cultura.

O reconhecimento mundial desta colossal obra colectiva é, ao mesmo tempo, uma enorme responsabilidade para os durienses e para todos os portugueses, pois significa que a sua preservação exige uma intervenção humana constante.

O Vinho do Porto, designado no Alvará Régio de há 250 anos como “vinho de embarque”, devido à sua longevidade e aptidão para suportar longas viagens, tem podido manter-se durante séculos como um dos nossos produtos mais competitivos no mercado mundial.

A histórica importância do Vinho do Porto na nossa economia, e em particular no nosso comércio externo, justificam plenamente que se celebre a sua existência e se reafirme a defesa da autenticidade, integridade e excelência dos produtos e da paisagem da Região. Estes são factores essenciais à valorização das actividades em torno da produção dos vinhos do Porto e do Douro.

Fazemo-lo significativamente nesta Casa do Douro, que representa os viticultores durienses, bem como as suas associações e adegas cooperativas da região demarcada.

Saúdo por isso os seus representantes aqui presentes e felicito os organizadores destas magníficas comemorações.

Mas a exaltação destas riquezas não deve impedir-nos de reflectir e agir sobre o muito que há ainda a fazer para desenvolver e fazer frutificar todas as potencialidades da Região, transformando-as em melhoria do bem-estar e do rendimento das populações, excessivamente dependentes dos ciclos conjunturais do mercado mundial do vinho.

Todos os esforços devem convergir para aumentar a competitividade do sector, garantindo a lealdade da concorrência e reforçando nos consumidores, nacionais e estrangeiros, a confiança quanto à origem e qualidade dos vinhos produzidos na Região.

Num mercado cada vez mais globalizado que a todos se impõe, a liberdade de comércio surge como uma oportunidade, desde que haja capacidade de inovação e de ajustamento permanente às exigências crescentes do mercado.

Para além do esforço que cabe ao Estado na criação das condições de desenvolvimento do sector adequadas aos novos tempos, é aos agentes económicos que compete cultivar bem as vinhas, produzir bons vinhos, promovê-los, comercializá-los e afirmá-los nos mercados nacionais e, sobretudo, nos mercados externos.

A estratégia a seguir para desenvolver a Região do Douro terá que ter sempre como centro a sua riqueza cultural, a sua paisagem e os seus vinhedos, mas não pode restringir-se à produção de vinho, por mais excelente que ele seja.

Deve assentar, certamente, na viabilização das actividades tradicionais e na preservação dos recursos naturais, mas tem que alargar-se a outras actividades, designadamente ao turismo, que tem aqui todas as condições para se desenvolver, desde que sob formas sustentáveis e inovadoras.

Não creio que os durienses temam as mudanças ou desanimem perante as dificuldades. Já provaram sobejamente, ao longo da história, a sua força para enfrentar o que parece adverso, a capacidade de resistir e persistir em fazer mais e melhor.

Este é o quadro que ainda hoje temos: um povo marcado pela vontade de dominar a natureza. Uma região que soube adaptar-se a todas as transformações, resistindo até às doenças da vinha mais terríveis. Um vinho criado para ser exportado e que se manteve durante séculos como um dos mais reconhecidos a nível mundial.

Os vinhos do Porto e do Douro são mais do que um produto. São uma cultura. São um património. Um património colectivo que é a expressão da arte e do saber de um povo.

E assim continuará obrigatoriamente a ser. Porque Portugal é também o vinho do Porto, esse precioso néctar com que se brinda para selar os grandes momentos da vida das pessoas, dos países e do Mundo.

Que assim continue a ser no futuro são os meus votos.

© Presidência da República Portuguesa - ARQUIVO - Aníbal Cavaco Silva - 2006-2016

Acedeu ao arquivo da Página Oficial da Presidência da República entre 9 de março de 2006 e 9 de março de 2016.

Os conteúdos aqui disponíveis foram colocados na página durante aquele período de 10 anos, correspondente aos dois mandatos do Presidente da República Aníbal Cavaco Silva.