Intervenção do Presidente da República na Universidade de Coimbra
Coimbra, 21 de Janeiro de 2008

Magnífico Reitor
Senhora Ministra da Cultura
Senhor Presidente da Câmara Municipal
Senhoras e Senhores Professores

Nesta minha primeira visita como Presidente da República à Universidade de Coimbra, quero antes de mais saudar, na pessoa do Senhor Reitor, todos os professores, alunos e funcionários que aqui trabalham e que, através do seu saber e dedicação, têm sabido preservar o prestígio da Academia e oferecer ao País um contributo inestimável.

A Universidade de Coimbra nasceu praticamente com o Estado português. Desde então até hoje, ela tem sido um dos mais sólidos pilares da nossa identidade, da nossa existência como nação independente e da nossa afirmação internacional.

Numa jornada dedicada ao património histórico e cultural, como a que iniciei esta manhã na Igreja de Santa Cruz, não podia deixar de visitar esta instituição, cuja história se confunde com a história de Portugal e que continua a ser um pólo dinâmico de produção e divulgação de conhecimento e cultura.

A Universidade de Coimbra não é apenas uma referência do património histórico e cultural português: ela foi e é também um marco importante na história da Europa. Foi aqui, e em mais duas ou três cidades pioneiras, que se desenvolveu uma das instituições que mais profundamente marcaram a evolução do velho continente.

Sem a universidade, a identidade europeia não seria, certamente, aquilo que é, nem teria influenciado tão decisivamente a história de outros continentes. E Portugal, através da criação dos chamados Estudos Gerais, soube estar na vanguarda de uma Europa onde o conhecimento viria a constituir-se como o principal factor de desenvolvimento e de comunicação entre os povos.

Fico, por isso, particularmente satisfeito ao tomar conhecimento - pelas intervenções já aqui feitas pelo Senhor Presidente da Câmara e pelo Senhor Reitor - dos projectos que a Universidade, em articulação com o Município, está a desenvolver para a requalificação dos seus espaços e para a apresentação de uma candidatura a Património da Humanidade.

As importantes iniciativas da Câmara Municipal de Coimbra em matéria de reabilitação urbana do centro histórico, das quais também tomei conhecimento e que devem ser estimuladas, contribuirão decerto para que a cidade obtenha o reconhecimento que merece.

Espero que a candidatura venha a ser bem sucedida, tornando assim ainda mais visível, não só a qualidade arquitectónica do lugar e dos bens aqui preservados, mas também a sua implantação na geografia e na história desse outro bem, imaterial e imprescindível, que é o saber.

Com o Roteiro do Património, que decidi efectuar pelo País e que teve a sua primeira jornada no Baixo Alentejo, tenho pretendido sensibilizar as diversas entidades, empresas e cidadãos em geral para a importância desta causa que é a preservação da nossa identidade como País, nos diversos registos em que ela se apresenta.
Quero evidenciar boas práticas, estimular o trabalho no domínio da recuperação e defesa do património e sublinhar o seu papel no desenvolvimento económico e social do País.
Quero chamar a atenção dos mais jovens para a riqueza do nosso património histórico e cultural e responsabilizá-los na sua preservação.

Num centro de saber e de cultura como este onde nos encontramos, não é preciso justificar a importância de que se reveste o património, quer no seu aspecto histórico, quer como factor de identificação e coesão do todo nacional, quer ainda como elemento decisivo para um desenvolvimento local sustentado.
Todos sabemos o valor e o simbolismo de monumentos como a Igreja de Santa Cruz e a Sé Velha, que visitei esta manhã, tal como dos restantes lugares aonde terei oportunidade de ir nesta segunda jornada do roteiro.

Não é possível conhecer realmente como nasceu e cresceu Portugal, como se delinearam as fronteiras e se povoou o território, como se consolidou a cultura e se desenvolveu o saber, se não prestarmos atenção aos vestígios que ainda se encontram nas igrejas, nos mosteiros e nos castelos desta região, ou nos muros desta universidade.

Preservar esses sinais do nosso passado, legar às gerações futuras os testemunhos que herdámos, não é só uma expressão de reconhecimento ou de exaltação patriótica: é, sobretudo, uma forma de olhar em frente e preparar o futuro com base naquilo que realmente somos e possuímos.

Não somos apenas um País de sol e com paisagens naturais muito apreciadas por todos quantos nos visitam. Somos também um País com uma cultura secular, a qual é preciso inventariar, dar a conhecer e estimar para melhor a preservarmos.

Em todo esse trabalho, a Universidade tem um papel muito especial a desempenhar, ao lado das restantes entidades directamente envolvidas na causa do património. Ninguém melhor do que ela poderá sensibilizar os responsáveis, investigar e divulgar os conhecimentos e técnicas que hoje em dia requer a conservação e promoção do património.
Estou certo de que a universidade portuguesa desempenhará condignamente esse papel.

Todos juntos, podemos e devemos travar o abandono e decadência que ameaçam alguns dos nossos lugares mais emblemáticos.

Portugal só será um País verdadeiramente moderno se for um País com memória.