Intervenção do Presidente da República por ocasião da sua visita à Academia das Ciências
Lisboa, 26 de Novembro de 2007

Senhor Presidente da Academia das Ciências de Lisboa,
Senhor Presidente da Academia Portuguesa de História,
Senhor Presidente da Academia de Marinha,
Senhor Presidente da Sociedade de Geografia,
Senhoras e Senhores,

Nesta minha primeira visita à Academia das Ciências de Lisboa, gostaria de começar por saudar todos os seus sócios, em especial aqueles que actualmente exercem funções de direcção.

Saúdo igualmente a Sociedade de Geografia, a Academia Portuguesa de História e a Academia de Marinha que, conjuntamente com a Academia das Ciências, promoveram o congresso que hoje se inicia, destinado a comemorar o segundo centenário da transferência da corte portuguesa para o Brasil.

Esta Academia é uma das instituições nacionais mais antigas e mais prestigiadas nos domínios da ciência e da cultura.

Nela tiveram assento, ao longo dos seus mais de dois séculos de existência, individualidades notáveis nos diversos ramos do saber.

Por aqui passaram Alexandre Herculano, Almeida Garrett, Avelar Brotero, Paulo Merêa, Egas Moniz, Vitorino Nemésio, Lindley Cintra, Celestino da Costa, tantos e tantos outros cujos nomes a História regista com admiração e apreço.

Todos eles engrandeceram o património comum, honraram a Academia e dignificaram o nosso País. Todos eles são credores do nosso mais profundo reconhecimento.

O papel da Academia das Ciências não se resume, contudo, a ser depositária de glórias passadas. Por mais justificado que seja o orgulho que temos na herança deixada por cientistas e homens de letras, essa herança deve constituir também um desafio e um estímulo para a nossa actuação presente e construção de um futuro melhor.

As responsabilidades que cabem a esta Academia em matéria de investigação científica e histórica, ou de estudo e divulgação da língua, da cultura e do pensamento nas suas múltiplas expressões, continuam hoje a ser tão actuais quanto eram no tempo em que ela foi criada.

Por um lado, a língua portuguesa é agora partilhada com sete Estados independentes que a adoptaram como língua oficial, criando-se deste modo uma comunidade de povos que dispõem de um valioso instrumento de aproximação e de projecção conjunta no plano internacional.

A ida da família real para o Brasil, que hoje aqui se assinala e foi evocada de forma notável na conferência do Professor Oliveira Ramos, traduz bem os laços que, tanto no passado como no presente, aproximam todos aqueles que fazem da partilha desta mesma língua uma comunidade de futuro, cujas potencialidades culturais, políticas e até económicas temos de saber aproveitar melhor.

Por outro lado, a intuição pioneira dos fundadores da Academia, segundo a qual é através do saber e da livre discussão das ideias que as nações progridem, está bem patente naquilo a que hoje se chama a «sociedade do conhecimento», a cujos desafios não nos podemos dar ao luxo de virar as costas.

No mundo global em que vivemos, onde a produção científica ultrapassa as fronteiras territoriais, impõe-se recordar e imitar o cosmopolitismo do abade Correia da Serra, esse homem de ciência e de acção, que tantos serviços prestou a Portugal no estrangeiro e que foi o verdadeiro cérebro desta Academia.

Pela sua vocação, pela sua história e pela projecção que lhe é reconhecida, a Academia das Ciências tem ainda um papel importante a desempenhar na promoção e dinamização da comunidade científica nacional.

Enquanto instituição onde se cruzam peritos de áreas distintas, e onde coexistem uma classe de Ciências e uma classe de Letras, a Academia pode contribuir também para o diálogo entre os vários saberes e fomentar um ambiente intelectual de verdadeiro humanismo universalizante.

A Academia pode, além disso, pelas relações privilegiadas que mantém com as suas congéneres, reforçar a internacionalização dos pólos de investigação nacionais, ajudando à sua inserção nas redes em que o conhecimento se produz e circula no mundo contemporâneo.

Estou certo de que a Academia das Ciências continuará a desempenhar cabalmente as tarefas para que está vocacionada e que são do maior interesse público.

Estou certo de que a dedicação e a clarividência dos seus actuais membros continuarão a honrar os pergaminhos desta casa e a dar ao País o seu inestimável contributo.

Tenho dito.